22 de março de 2008

Páscoa é o meu Ovo!



"Coelhinho da Páscoa o que trazes pra mim?"


Vem Páscoa e vai Páscoa e o cântigo se consolida ainda mais nos transeuntes que se estapeiam por formas ovais de chocolate nas mega e minilojas do Brasil afora.


Difícil encontrar um que tenha passado ileso, pós passagem pelos centros de consumo, nesta época do ano. São mães frenéticas de um lado correndo e se empurrando para alcançar os frutos (de chocolate embalados em papel laminado belamente adornado em cores chamativas), pais aflitos checando o extrato da conta ao lado da lista de compras (todas com mais de 20 itens detalhadamente especificados em sabores, cores e destino), tios coçando a cabeça e olhando aflitamente para os lados, tentando encontrar os sobrinhos perdidos que, por sua vez, se preocupam em pedir, mandar, gritar e exigir tamanhos, formas e recheios, enquanto correm descontroladamente e deslumbrados com as nuvens de frutas-que-não-nascem-em-árvore logo acima deles.


Não me levem a mal, adoro crianças, mas é inevitável enfrentar o desejo de colocar o pé na frente das pestinhas quando, pela 3a. vez, passam correndo e esbarrando em nossas pernas, escorando-se e gritando: "olha tio, é esse! esse é gostoso! vou ganhar dois desse! você gosta???"...


Para completar, como bem previsível em toda tragicomédia que é a vida, teve a comemoração de Páscoa na empresa. Nada mais justo! Considerando o RH inchado, era de se esperar algo grandioso e bem organizado mesmo.


Começou com os setores todos sujos (ou devo dizer enfeitados) com palha e patinhas de tigre (acho que as de coelho -- proporcionalmente menores e mais delicadas, o que se aduz do senso comum -- tinham acabado na papelaria) grudadas nas janelas, mesas e chão das salas. Para completar, ninhos (leia-se montes de palha) no meio de cada célula (amontoado de mesas) de cada setor, cada qual com o número certo de Ovos, 1 para cada colaborador.


Eu, trabalhador que sou, fui recompensado com zero Ovos. Certamente os comentários semanais que estou ganhando peso (por conta do anti-alérgico à base de corticóide) fizeram efeito!


Não bastasse, atolado de serviço (fechamento das compensações fiscais de 4 empresas do grupo), faltando 1hr para o fim do expediente, convocam todos (sim! 760 colaboradores) para saírem de suas tocas e caçarem os ovos escondidos pelo bosque empresarial.


Caça ao (meu) ovo iniciada, larguei tudo e fui atrás do que era importante. O trabalho pode esperar. Com a animação de um bicho-preguiça (de coelhos a empresa já estava saturada), dirigi-me à moitinha do xixi (toilet). Traído pelas lebres, tropecei no bueiro que abriu fazendo o discreto som de uma bigorna caindo -- o suficiente para gerar os comentários de que o "adevogado" é tão precavido que prospecta até mesmo os buracos atrás de ovos. Ai meu ovo!


Depois dessa, concluí o chamado da natureza e voltei para o trabalho na toca. "Os outros que achem meu ovo e, se quiserem, me dêem", pensei. E assim não foi. Os 50 ovos foram encontrados e os meus não estavam entre eles. Também pudera... Ovos do ofício! Digo, ossos!


Fim do expediente. Eu era o último animalzinho do bosque a deixar a mata. Na clareira de saída, o encontro com o diretor administrativo (apropriadamente acompanhado de metade dos gestores) da corporação foi inevitável: "Meu caro, cadê os seus ovos? Não pegou nenhum?". E eu: "Não, não!! Já tenho dois!"*


Traído pelo reflexo...


Com vocês, a saga do meu OVO!!

15 de março de 2008

Vortex



Alguém lembra deste joguinho? Columns, do Master System. Para quem quiser relembrar: http://www.youtube.com/watch?v=XMLcFbGftWA (notem a música)
Sei lá se é velhice ou o quê, mas o fato é que este videozinho me fez sentir algo muito estranho, uma saudade misturada com uma nostalgia inexplicável... Um vazio meio escroto de um tempo que passou e nunca mais vai voltar. Tive (e ainda tenho) vontade de chorar, de poder voltar no tempo...

Vejo a cena perfeitamente, como se fosse um filme: eu jogando com meu amiguinho, o Mauro. Cheiro, iluminação, local tudo. Nenhuma lacuna. Até vozes e comentários. Muito estranho.


Tem umas coisas mto escrotas, né? E este não é o único que me faz sentir essa agonia... Imagino quantos são e porque fico assim...


Engraçado que, agora, depois de "velho", tinha umas músicas do Daft Punk, do álbum Discovery (Aerodynamic; Digital Love; Short Circuit) que me recordavam um pouco de alguma coisa da infância. Escutando a trilha e sonoplastia do joguinho agora entendo porque. Será que o fato de eu gostar tanto da banda e de eu ter jogado tanto tempo Columns e curtido tanto esta época estão interligados?

2 de março de 2008

Diário de Bordo # 3

Um mês de vivência se aproxima e posso dizer que minha empreitada continua tão desafiadoramente desconhecida quanto antes.

Cada um dos integrantes do grupo de desbravadores já se debandou e faz a prospecção de terreno e rituais independentemente. Uma vez por semana, há a tentativa de encontro, mas parece que quanto mais necessária a troca de percepções, mais difícil de ela acontecer.


Na última reunião, muitos expressaram preocupação com a atual postura dos nativos. É unânime o sentimento de que os pajés estão relutantes em nos aceitar no grupo. Evidente o temor pelo novo e receio de perderem o controle sobre as tarefas do dia-a-dia. Particularmente, esta postura me preocupa, afinal, foram eles que sentiram a necessidade de buscar novos ares.
Traído pela minha personalidade, tomei a frente e ousei, recorrendo à diplomacia e um quê de lógica, apontar a questão a um dos chefes. A receptividade foi muito positiva. Surpreendi-me inclusive. Me pergunto se não teria sido porque tratei logo com um dos chefes que possuem anos-experiência próximos ao meu... Já o apontamento de soluções não foi tão satisfatório. De certa forma, isso derrubou meu quesitonamento. Receio ainda ter causado uma impressão de quem busca mudar uma realidade milenar em 10 dias. Enfim! O contato era necessário.


Fora isso, passei por um teste para aferir minha proficiência na língua-alienígena, denominação que usam para a linguagem utilizada no escambo e negociações com tribos forasteiras. Muito bom saber que ainda impressiono, mesmo sem a continuidade da prática do vernáculo. Me apontaram para ensinar aqueles que desconhecem os fonemas e estruturas da língua-estranha. Por mim, tudo bem. Só gostaria de receber um destaque maior dentre eles por conta disso.


No mais, a convevivência já me ensinou expressões e trejeitos regionais. De vez em vez me pego utilizando disto como um artifício para me fazer entender melhor, encurtar a distância e, porque não, mesclar com os locais. Tenho a impressão de que conscientimente nos desvinculamos um pouquinho das nossas essências para nos sentirmos menos mal-quistos. Prefiro minha essência, confesso.


Interessante perceber que algum deles também usam do mesmo artifício. Isso cativa e conforta. A demonstração de disposição à ruptura da barreira além-mar é bastante motivadora. Pelo menos no campo pessoal, suponho.


Meu corcel branco foi levado por reitores. "Viola os regulamentos locais", disseram. Tive de me desdobrar e usar gastar muito com agrados materiais para conseguir reavê-lo. Quero mandá-lo de volta. Sentirei falta de meu fiel companheiro.


No meio tempo, estou à procura de um companheiro de outra espécie. O nome já existe: Biscoito. A caça aqui é menos despendiosa do que na minha terra natal e tenho certeza que a adapção de meu mascote será mais natural.


Quem sabe o melhor amigo do homem não me ajuda na expedição?


Recolho-me à cabine agora.