9 de setembro de 2011

Vamos pedir piedade.

Na onda do post anterior, me vem à cabeça um pedacinho da letra de um dos compositores brasileiros que mais admiro, o Cazuza: “pra pessoas de alma bem pequena, remoendo pequenos problemas”.

Bom, a conta de luz é um pequeno problema. O arroz se sal também é, ou a falta de feijão no almoço. A escova guardada molhada também. O ventilador ligado. O carro sujo. A blusa esgarçada. A calça desbotada. O cabelo sem corte. Vou parar a lista, porque ela certamente pode ficar imensa. Importante é que nada disso deveria ser usado como motivo para criar turbilhões em copo d’água.

Falar demais e criar problemas sobre qualquer um desses assuntos certamente é um dos motivos que dão brecha para ouvir de outros muito piores. Ainda mais quando existe a oportunidade de discuti-los amenamente.

“Vamos pedir piedade, pois há um incêndio sob a chuva rala. Somos iguais em desgraça.” Cazuza, você é o cara!

Mudei.

Um dia desses me disseram que eu tinha mudado muito te uns tempos pra cá. Uma das mudanças mais pungentes, destacaram, foi que tenho optado por ficar mais calado e discutir menos as coisas. More of a listener than an arguer, per say.

Sabe, eu era um daqueles chatos que gostava de argumentar por argumentar. Não que eu quisesse sempre estar certo, mas eu sempre buscava imprimir validade lógica nos discursos. Argumentar pelo prazer de argumentar, sabe? Péssimo admitir isso, mas é verdade. Enfim, são águas passadas e hoje eu sinceramente acho que é coisa de moleque. Atualmente, admiro muito mais quem consegue calar do que rebater.

Bom, fato é que refleti um pouco sobre esta mudança nos últimos dias e achei um dos motivos, que inclusive já foi cerne de outro post aqui no blog: quem fala o que quer, ouve o que não quer.

Falar muito e sobre muita coisa (principalmente sem pensar, soltando as coisas de qualquer jeito) dá brecha para o retorno na mesma moeda. Dar pitaco é sempre muito complicado, já que o pensar, atualmente, nunca me parece suficientemente amplo. As dimensões de tudo neste mundo são sempre muito amplas/complexas em nossa cabeça e podem tomar diferentes facetas, que, por sua vez, se desdobram em outras micro numa digressão possivelmente infinita. Isso se torna especialmente mais complexo quando consideramos que ainda existe a vastidão da subjetividade do pensamento da outra pessoa envolvida nas questões, e, com ela, todas as respectivas micro-facetas.

Fato é que, me parece, quanto mais opinamos incisivamente sobre um assunto, mais aumentamos a chance de influenciar a tomada de decisão, ou visão, ou o que quer que seja, de uma pessoa sobre ele. Por mais que não queiramos, isso acontece. E por algum motivo, seja vivência, maturidade, ou simplesmente calejamento pela vida, atualmente interpreto isso como ruim. Sem querer, acabamos por importar para nós as decisões dos outros e repercussões delas e, de quebra, contribuímos, também se querer, por tolher um pouquinho o outrem da tomada de decisões por si só, o que é péssimo, pois é essencial ao processo cognitivo e de desenvolvimento pessoal a tentativa e o erro. O que pega é que é com o erro que a gente aprende. Pelo menos é assim que funciona pra mim. Nas palavras da máxima de um amigo: “a vida é essencialmente definida por ‘nãos’ muito mais do que por ‘sins’”.

Mas voltando aos trilhos. O problema que acontece com muita gente (e hoje vejo que eu estava incluso nesse grupo, do qual hoje tento sair) é que falam demais, na hora que bem entendem e como bem entendem, sem se dar ao cuidado de colocar freios no que é dito. Até aí tudo bem. Acontece que esquecem que ao fazê-lo se sujeitam ao mesmo quanto mais o fizerem.

Todo mundo tem um limite e hora ou outra ele chega. Ouvir quieto é uma virtude que não é para todos. E até aqueles que a tem uma hora perdem as estribeiras.

Por isso vou parar agora antes que o leitor descasque a lenha pra cima deste tanto de palavras descomedidas.

PS - Mudei de endereço também. Incrível como nos acostumamos facilmente com diferentes rotinas e locais. Mas isso é assunto para outra hora.