"Coelhinho da Páscoa o que trazes pra mim?"
Vem Páscoa e vai Páscoa e o cântigo se consolida ainda mais nos transeuntes que se estapeiam por formas ovais de chocolate nas mega e minilojas do Brasil afora.
Difícil encontrar um que tenha passado ileso, pós passagem pelos centros de consumo, nesta época do ano. São mães frenéticas de um lado correndo e se empurrando para alcançar os frutos (de chocolate embalados em papel laminado belamente adornado em cores chamativas), pais aflitos checando o extrato da conta ao lado da lista de compras (todas com mais de 20 itens detalhadamente especificados em sabores, cores e destino), tios coçando a cabeça e olhando aflitamente para os lados, tentando encontrar os sobrinhos perdidos que, por sua vez, se preocupam em pedir, mandar, gritar e exigir tamanhos, formas e recheios, enquanto correm descontroladamente e deslumbrados com as nuvens de frutas-que-não-nascem-em-árvore logo acima deles.
Não me levem a mal, adoro crianças, mas é inevitável enfrentar o desejo de colocar o pé na frente das pestinhas quando, pela 3a. vez, passam correndo e esbarrando em nossas pernas, escorando-se e gritando: "olha tio, é esse! esse é gostoso! vou ganhar dois desse! você gosta???"...
Para completar, como bem previsível em toda tragicomédia que é a vida, teve a comemoração de Páscoa na empresa. Nada mais justo! Considerando o RH inchado, era de se esperar algo grandioso e bem organizado mesmo.
Começou com os setores todos sujos (ou devo dizer enfeitados) com palha e patinhas de tigre (acho que as de coelho -- proporcionalmente menores e mais delicadas, o que se aduz do senso comum -- tinham acabado na papelaria) grudadas nas janelas, mesas e chão das salas. Para completar, ninhos (leia-se montes de palha) no meio de cada célula (amontoado de mesas) de cada setor, cada qual com o número certo de Ovos, 1 para cada colaborador.
Eu, trabalhador que sou, fui recompensado com zero Ovos. Certamente os comentários semanais que estou ganhando peso (por conta do anti-alérgico à base de corticóide) fizeram efeito!
Não bastasse, atolado de serviço (fechamento das compensações fiscais de 4 empresas do grupo), faltando 1hr para o fim do expediente, convocam todos (sim! 760 colaboradores) para saírem de suas tocas e caçarem os ovos escondidos pelo bosque empresarial.
Caça ao (meu) ovo iniciada, larguei tudo e fui atrás do que era importante. O trabalho pode esperar. Com a animação de um bicho-preguiça (de coelhos a empresa já estava saturada), dirigi-me à moitinha do xixi (toilet). Traído pelas lebres, tropecei no bueiro que abriu fazendo o discreto som de uma bigorna caindo -- o suficiente para gerar os comentários de que o "adevogado" é tão precavido que prospecta até mesmo os buracos atrás de ovos. Ai meu ovo!
Depois dessa, concluí o chamado da natureza e voltei para o trabalho na toca. "Os outros que achem meu ovo e, se quiserem, me dêem", pensei. E assim não foi. Os 50 ovos foram encontrados e os meus não estavam entre eles. Também pudera... Ovos do ofício! Digo, ossos!
Fim do expediente. Eu era o último animalzinho do bosque a deixar a mata. Na clareira de saída, o encontro com o diretor administrativo (apropriadamente acompanhado de metade dos gestores) da corporação foi inevitável: "Meu caro, cadê os seus ovos? Não pegou nenhum?". E eu: "Não, não!! Já tenho dois!"*
Traído pelo reflexo...
Com vocês, a saga do meu OVO!!